O tema foi escolhido para aula magna da 7ª turma do Onboarding e faz parte do projeto de inlcusão da luta antirracista nas atividades da Escola

No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado nesta terça-feira (25), o programa Embarcando na Administração Pública, da Enap, recebeu a promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia, Lívia Sant’Anna Vaz, dentro da programação do Julho das Mulheres Negras, para falar que a “Justiça é uma mulher negra”. A aula magna da 7ª turma do Onboarding é também uma das iniciativas da Formação de Iniciativas Antirracistas (Fiar): tecendo o caminho para a igualdade racial, programa do governo federal lançado em parceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR) em maio deste ano. 

Durante a abertura da aula do dia, a diretora de Educação Executiva (DEX) da Enap, Iara Alves, destacou que a Escola tem promovido uma programação recheada de palestras sobre políticas afirmativas, com módulos obrigatórios sobre equidade de gênero e raça, numa perspectiva interseccional. “Esse é mais um compromisso do governo com a pauta antirracista e faz parte de uma agenda pactuada com o MIR para os próximos anos. Estamos comprometidos em formar nossos servidores, para que a gente consiga entender como os problemas de desigualdade no nosso País são estruturados”, ressaltou. 

O papel da justiça

Nessa mesma linha, a promotora e palestrante do dia levantou como questionamento aos participantes o papel da Justiça nessa estruturação e especialmente na representação da pluralidade brasileira. “O que mais me causa espanto na representação inquestionável da Justiça, porque até agora ninguém tinha questionado de ser uma mulher branca, da mitologia grega - não é só ser uma mulher branca, mas da mitologia grega -, e eu sempre me pergunto: ‘o que a história da Grécia tem a ver com a nossa história? Por que temos uma referência da mitologia grega como sendo a nossa imagem e representação da Justiça? Além disso, ela tem olhos vendados”, avaliou. 

Segundo a promotora, o Brasil precisa realizar um movimento contrário ao do atual cenário e promover uma aproximação. “Eu penso que, especialmente nessas áreas sociais e humanas, o objeto do nosso conhecimento são as pessoas, e nós estamos virando as costas para essas pessoas. Estamos mantendo os olhos vendados. Essa Justiça de olhos vendados, ela tem a capacidade apenas de manter as coisas como estão, e as coisas não vão bem. Especialmente, em termos históricos, para determinados grupos vulnerabilizados”, constatou Lívia Vaz, acrescentando as mulheres negras a esses grupos. 

A Justiça como uma mulher negra, para a promotora, pode promover um Poder pluriversal, que se pauta na concepção de cada ser humano como centro de humanidades. “Todas as pessoas têm vários lugares de fala, não apenas um. O que não o deslegitima para abordar outros temas e para lutar, enfrentar outras formas de opressão que não necessariamente atravessem as suas próprias vivências. Como uma Justiça de olhos vendados será capaz de enxergar essa pluriversalidade? Então, proponho uma aproximação em relação ao dito objeto do nosso   conhecimento e da nossa interpretação para que nós possamos realmente promover a igualdade”, concluiu. 

Em toda a aula magna, Lívia levantou também fatos históricos desde a escravidão dentro e fora do Brasil ao que ela denomina “racismo sofisticado”, que, mesmo hoje em dia, não conseguiu alcançar as pessoas em geral mesmo por meio do letramento e da consciência racial. Em um País formado por 56% de pessoas negras, e que nega a essa população a condição de sujeitos de conhecimento, a promotora acredita que “é para ontem que cada um se engaje na educação antirracista para si e para os outros”. 

Clique e assista a aula magna na íntegra. 

O guarda-chuva Fiar

O tema da aula magna da 7ª turma do Embarcando na Administração Pública e a parceria Enap e MIR retomam o processo de construção da história que, segundo a secretária-executiva adjunta do MIR, Adriana Marques, havia ficado para trás. “No ministério, a gente fala que julho é janeiro, fevereiro, março, abril, maio, ou seja, para mulheres negras, a nossa representatividade é ano todo. E não começa aqui, começa lá atrás. É uma história de ancestralidade”, reafirmou. 

Para ela, a contribuição da Enap tem ainda mais importância na criação de novos espaços para pessoas negras em todo o Brasil, para falar de igualdade racial. “É uma iniciativa (o Fiar) muito importante para a gente trabalhar com a Enap e isso aparecerá em todas as formações. Não estamos falando mais de um cursinho esporádico, deixado de lado só para algumas pessoas. Estamos falando em cursos para todas as pessoas que estão na área pública. Não é mais uma coisa pontual”, garantiu.